NOSSA LITERATURA


TEORIA DA BELEZA

Dizem que a beleza está nos olhos de quem vê. Não concordo com este pensamento, porque muitas vezes nossos olhos podem nos enganar e quando ampliamos o campo de nossa percepção para apreciarmos o objeto de nossa contemplação, e que a princípio é considerado belo, constatamos os tão indesejáveis “defeitos” que fazem qualquer apreciação estética cair por terra. E o que dirão nossos irmãos que nascem desprovidos do sentido da visão, será que podemos negar-lhes o direito de conhecer a beleza?
Há alguns anos atrás fiz uma viagem a nossa capital para conhecer um pouco mais sobre seus lugares. Fui ao shopping e lá com certeza as pessoas se preocupam em andarem belas, sempre arrumadas e na maioria das vezes com ar de pessoas abastadas – não sei se realmente são, pois quem vê cara não vê talão. Andei pelo centro comercial e vi que lá, belo é ser consumista, pois o tratamento é diferenciado para quem gasta sem limites. Já na praia o conceito da beleza muda do status pecuniário para o corporal, pois bonito mesmo é exibir um corpo sarado de academia.
A cada lugar que visitava percebia que as pessoas queriam viver sob o signo da beleza. Uma beleza criada, inventada por marqueteiros bem sucedidos, pois todos desejavam fazer parte desse mundo. Um mundo ditador, onde quem não se adequasse as suas regras receberia a qualificação que ninguém gosta de receber, a de “feio”. Quem é que gosta de ser chamado de feio? Podem até ironizar dizendo que alguém é bonitinho, engraçadinho, mas feio nunca.
Apesar de todas estas verificações não muito agradáveis sobre o conceito estético para muitos, foi lá na cidade grande que também descobri o verdadeiro sentido da palavra beleza que vai muito mais além daquilo que meus olhos podiam me mostrar. E esta minha constatação se deu quando eu fui à Catedral Metropolitana e presenciei uma cena inesquecível de uma criança de joelhos na entrada da igreja. Ela carregava consigo uma geleira de picolés e havia passado ali para agradecer a boa venda feita.
Talvez vocês estejam se perguntando qual a beleza encontrada nesta cena. E eu lhes digo que vê um menino pobre tendo que trabalhar muito para ajudar no sustento da família não é nada bonito, mas perceber que ele, na sua simplicidade e inocência, foi capaz de agradecer pelo pouco que tinha conseguido, isto sim, é ser belo.
Compreendi a partir daí que a beleza não é para ser vista, é para ser simplesmente sentida.

Professora Ana Kílvia